top of page
  • Instagram
  • Facebook
  • Youtube
Buscar

Jogral: como criar apresentações coletivas em sala de aula

Quando penso no jogral, logo me vem à mente o coro animado de vozes que ressoa coletivo, costurando palavras, gestos e ritmo num tecido vivo de oralidade. Ao longo da minha vivência em diferentes escolas e eventos culturais, presenciei a força que o jogral tem para unir, envolver e dar voz ao grupo. Hoje, quero compartilhar um pouco desse universo e mostrar como criar apresentações de jogral em sala de aula pode ser encantador e educativo, seja para crianças, jovens ou adultos.


A cultura popular e as origens do jogral


O jogral é, acima de tudo, uma expressão coletiva. Surgiu em contextos populares, onde a palavra era repartida e celebrada em grupos. No Brasil, o jogral encontrou eco nas tradições de coros, festas e manifestações folclóricas, conectando-se a elementos como a presença de grupos artísticos tradicionais em quase metade dos municípios. Vejo isso quase como uma herança oral, passada de geração para geração, participando da identidade escolar e comunitária.

O jogral faz a palavra ganhar corpo coletivo.

Historicamente, jograis eram artistas medievais que recitavam textos em grupo. No Brasil, adaptou-se para valorizar lendas, poesias, provérbios e textos autorais ou folclóricos, sendo frequente em datas comemorativas, feiras e festivais, como se observa na variedade de festivais populares promovidos por municípios. Aos poucos, o jogral foi ocupando o espaço da escola, pois estimula o trabalho em equipe e o contato com o universo literário e oral.


Por que apostar no jogral na escola?


Na minha experiência, nenhuma atividade coletiva desperta tanto envolvimento quanto o jogral. Ele convida a turma a sair da passividade, promover diálogos e cooperar. Nas escolas urbanas, onde 94,5% dos alunos atualmente estudam, atividades orais como o jogral servem de ponto de encontro, especialmente em salas grandes ou múltiplos turnos, onde o sentimento de grupo precisa ser cultivado ativamente.

O jogral também aparece como um antídoto para o individualismo exacerbado. Pela necessidade de sintonizar vozes, corpos e emoções em grupo, o jogral valoriza o respeito pelo outro e o compromisso com o coletivo. Tenho visto estudantes tímidos se soltando, ganhando segurança ao dividir o palco e a fala.


Selecionando textos: do folclórico ao autoral


O primeiro passo é escolher o texto. Recomendo começar por poesia curta, lendas folclóricas ou fragmentos literários que dialoguem com os interesses da turma. Textos do folclore popular brasileiro são perfeitos para jograis: parlendas, trava-línguas, histórias de personagens como Saci, Iara ou Curupira.

  • Parlendas e cantigas para turmas pequenas;

  • Poemas de autores brasileiros para alunos maiores;

  • Lendas regionais e textos informativos para temas interdisciplinares;

  • Criação autoral dos próprios alunos, estimulando imaginação e autoria.

Já trabalhei jograis com fragmentos sobre meio ambiente, diversidade cultural e até matemática, integrando outras áreas. Textos curtos, ritmados e com repetições funcionam muito bem, mas confesso que até desafios maiores podem ser adaptados se a turma se apaixonar pelo tema.


Organizando a apresentação: ritmo, papéis e ensaios


Organizar um jogral começa pelo convite à participação. Costumo reunir o grupo e apresentar o texto já lido em voz alta, deixando que percebam sua melodia e possíveis divisões.

  1. Divisão de falas: Alternar frases entre duplas, trios ou grupos maiores, e reservar refrãos para todos, sempre soa interessante.

  2. Distribuição de papéis: Ofereço opções para quem prefere aparecer mais ou menos, considerando perfis tímidos ou extrovertidos. Crianças pequenas gostam, inclusive, de “entradas” sonoras com instrumentos caseiros.

  3. Ritmo e entonação: Ensaiar o ritmo coletivo é fundamental. Batidas com palmas, pés ou instrumentos recicláveis dão vida ao texto. Incentivo os alunos a experimentar pausas, sussurros, alternâncias rápidas ou lentas.

  4. Uso de gestos: Mesmo com pouca experiência, pequenos gestos criam significado. Mãos indicando direção, gestos de movimentar uma história, caras e bocas para momentos engraçados ou de suspense.

A preparação não precisa ser complexa: um ou dois ensaios já ajudam o grupo a sentir confiança. Com turmas maiores, a apresentação final pode acontecer para outras classes, gestores ou até familiares. Já presenciei pais emocionados ouvindo filhos tímidos participando com orgulho num jogral. Para quem deseja ampliar ainda mais o repertório oral na escola, sugiro conhecer as práticas de contação de histórias na educação infantil, que trazem benefícios muito parecidos com os do jogral.


Adaptando o jogral para diferentes idades e contextos


O interessante do jogral é essa flexibilidade. Com crianças, costumo dar espaço para repetições e sons corporais. Adolescentes são convidados a criar textos próprios, abordando assuntos atuais ou do cotidiano escolar. Já com adultos ou idosos, vale resgatar memórias, contar histórias da comunidade e trazer reflexões sobre o folclore. Os ensaios se adaptam ao ritmo do grupo, nunca são engessados.

Em tempos de turmas grandes, como vejo em escolas onde mais de 42% das instituições de ensino médio atendem acima de 500 estudantes (Censo Escolar 2024), o jogral é uma forma simples de garantir que todos possam, mesmo que em pequenos grupos, ter sua vez de brilhar.


Jogral como ponte interdisciplinar


Uma das grandes alegrias que já tive foi ver turmas usando o jogral para apresentar conteúdos de diversas disciplinas. Já vi jogral sobre biomas, números, acontecimentos históricos, datas comemorativas, datas indígenas ou diversidade. A interdisciplinaridade surge natural, e professores relatam maior engajamento quando o conteúdo é apresentado de maneira oral e coletiva.

O jogral pode ser parte de um projeto maior de teatro escolar, contribuindo para a formação ampla dos alunos, como reforça este texto que reflete sobre a importância da arte na formação das crianças. Quando o conteúdo é vivido de modo criativo, com protagonismo do grupo, o aprendizado faz mais sentido e perdura.


Colaboração, criatividade e participação


No fundo, o jogral é um convite para superar a vergonha e apostar no coletivo. Cada um tem seu papel e sua maneira de contribuir. O ambiente participativo, a valorização da autoria, a aceitação da diferença nas vozes e nos gestos são o segredo do sucesso da prática.

Já vi muitas escolas que apostaram em atividades lúdicas e artísticas colherem frutos em autoestima, rendimento escolar e clima positivo na sala, aspecto também constatado por práticas de recreação e atividades lúdicas aliadas à arte. Além disso, despertar a criatividade, como sugiro em minha análise sobre como estimular a criatividade, faz toda diferença no resultado final.

Cada jogral é único porque cada grupo tem seu próprio ritmo.

O jogral é simples, democrático e cheio de potência, e talvez seja isso que o torna tão encantador. Se há dúvida sobre a pertinência de apostar no jogral como ferramenta, penso nas taxas estáveis de aprovação escolar entre 2023 e 2024 e na busca de tornar a aprendizagem significativa (indicadores de rendimento do Censo Escolar).

As crianças, segundo análise sobre a importância da brincadeira para elas, aprendem melhor quando o ambiente permite experimentar, errar, rir e colaborar. Isso, para mim, é o coração do jogral.


Conclusão


Contando com a voz do grupo, o jogral se oferece como uma ferramenta de expressão oral coletiva, lançando pontes entre gerações, contextos e temas escolares. Ao preparar um jogral em sala de aula, costumo perceber mudanças pequenas, mas profundas: alunos mais abertos, professores mais próximos de seus grupos, aprendizados que atravessam as disciplinas. Não é só o texto que ecoa, mas também a experiência de fazer junto.

Seja com versos folclóricos, poesias atuais ou criações próprias, o jogral convida cada pessoa a ser parte da construção do conhecimento e da alegria em grupo, levando cultura, criatividade e colaboração para o centro da sala de aula.


Perguntas frequentes sobre jogral na sala de aula



O que é jogral na sala de aula?


Jogral na sala de aula é uma apresentação oral coletiva em que um grupo de alunos recita, de forma alternada ou em conjunto, um mesmo texto, geralmente com ritmo, entonação marcante e, às vezes, gestos ou movimentos corporais. Pode ser utilizado para trabalhar poemas, lendas, textos autorais e conteúdos interdisciplinares, valorizando o trabalho em equipe e a expressão oral.


Como organizar um jogral com alunos?


A organização começa pela escolha do texto, leitura em grupo e divisão das falas. Em seguida, distribuo os papéis respeitando o perfil de cada aluno. Ensaios permitem ajustes no ritmo, entonação e movimento. Costumo incentivar a criatividade nos gestos e até na autoria do texto. O ideal é adaptar o processo à turma, para que todos se sintam à vontade e protagonistas do resultado.


Quais temas usar em apresentações de jogral?


Uma variedade de temas pode ser abordada: folclore brasileiro, datas comemorativas, meio ambiente, matemática, história, cidadania, diversidade ou até criações e reflexões dos próprios alunos. O importante é que o tema ressoe com o grupo e permita integração de diferentes vozes.


Jogral ajuda no aprendizado dos estudantes?


Sim, o jogral incentiva a leitura, escuta ativa, memorização, ritmo, entrosamento social e autoconfiança. Ajuda também a desenvolver habilidades orais e a compreender melhor os textos, já que a apresentação coletiva exige compreensão e adaptação constante. O clima de colaboração potencializa o engajamento e o senso de pertencimento.


Como dividir os papéis no jogral?


A divisão pode ser feita por versos, frases, personagens ou grupos que respondem juntos a determinadas partes do texto. Costumo perguntar quem prefere mais ou menos exposição e crio partes para todos, inclusive para alunos menos falantes, que podem usar gestos, instrumentos ou sons. O segredo é adaptar a divisão ao perfil e à quantidade de participantes.

 
 
 

Comentários


Brincartear

© 2022 por Hospital do Site

bottom of page