
Kit cultural ou livro paradidático? Veja qual engaja mais
- Flavio Aoun
- há 12 minutos
- 6 min de leitura
Há anos acompanho, nas escolas e nos espaços culturais, a busca de educadores por recursos inovadores que consigam prender a atenção dos alunos quando o assunto é cultura popular. Com tanta oferta de materiais, muitos ficam na dúvida: o kit cultural, cheio de jogos e músicas, é mais envolvente do que um livro paradidático sobre tradições regionais? Vou contar o que vi, o que pesquisei, e trago aqui uma comparação bem detalhada para ajudar quem é apaixonado por cultura brasileira e quer estimular esse mesmo sentimento nos estudantes.
Kits culturais: experiências que vão além da teoria
Quando penso em kits culturais, logo me vêm à mente caixas recheadas de materiais sensoriais, instrumentos de percussão feitos de materiais recicláveis, cartas com brincadeiras folclóricas e até pequenos manuais de histórias típicas. Em oficinas com crianças e adolescentes, percebi o quanto eles se envolvem quando podem tocar, ouvir e brincar com os elementos culturais. É um tipo de aprendizagem em que o corpo inteiro participa.
O que costuma ter em um kit cultural?
Jogos de tabuleiro inspirados em brinquedos populares
Material para confecção de brinquedos recicláveis
Músicas folclóricas e CDs com contação de histórias
Cartas de desafios ou adivinhas
Manuais simples com propostas de atividade
Recentemente, conheci um projeto do Instituto Federal do Espírito Santo que reuniu jogos e brincadeiras indígenas para ampliar o ensino de matemática nas escolas. A aceitação foi incrível, porque a vivência desperta outras formas de aprender além do convencional.
Como aplicar kits culturais em sala de aula?
Eu já presenciei salas de aulas se transformarem com a chegada de um kit cultural. O educador pode dividir os alunos em grupos, propor oficinas de montagem de brinquedos, estimular um círculo de contação de histórias ou até organizar rodas de histórias e músicas. Nessas horas, até os mais tímidos costumam participar, porque a barreira entre professor e aluno desaparece, ambos se tornam parte da brincadeira.
Ensinar brincando é inesquecível.
Principais vantagens dos kits culturais
Aprendizagem vivencial que faz sentido, principalmente nas séries iniciais
Encantamento imediato: crianças e adolescentes se envolvem espontaneamente
Contato direto com diferentes manifestações culturais
Permite a inclusão de alunos com diferentes estilos de aprendizagem
Também preciso destacar que preparar e mediar essas atividades exige disposição do educador, planejamento, e um olhar atento para adaptar o conteúdo a cada faixa etária. Essa maleabilidade pode ser uma vantagem, mas também um desafio para quem prefere atividades mais estruturadas.
Falando em desafios, há vezes em que os kits demandam mais tempo de preparação e espaço físico adequado, o que pode dificultar a rotina em escolas com infraestrutura limitada. Porém, acredito que a criatividade do educador costuma dar conta de driblar esses obstáculos, já vi muita coisa ser montada até em corredores largos ou pátios cobertos.
Livros paradidáticos: tradição e aprofundamento regional
Os livros paradidáticos ganharam terreno nas escolas brasileiras por dois motivos: promovem a leitura prazerosa e permitem um aprofundamento dos temas regionais, muitas vezes não abordados no material didático tradicional. Segundo dados do PNLD, só em 2023 foram destinados mais de R$ 2,3 bilhões à aquisição de livros didáticos e paradidáticos, um volume impressionante.
O que os paradidáticos trazem de diferente?
Textos literários ou informativos sobre festas, lendas, folclore e história local
Ilustrações e mapas que contextualizam a cultura regional
Propostas de atividades escritas, projetos de pesquisa e atividades interdisciplinares
Versões adaptadas para diferentes níveis de leitura
Tem um caso que me marcou: em uma escola do interior do Piauí, professores receberam livros paradidáticos sobre o semiárido. Os estudantes se identificaram tanto com as histórias que começaram a trazer relatos da própria família para enriquecer a aula. Senti que ali o material cumpriu seu papel de aproximar o conteúdo do cotidiano.
Como usar livros paradidáticos para engajar?
Em minha experiência, o educador pode transformar a leitura em uma atividade coletiva e interativa. Algumas ideias são:
Leitura dramatizada com personagens folclóricos
Debate sobre costumes regionais abordados nos textos
Painéis ilustrativos feitos pelos próprios alunos
Pesquisa sobre as origens das lendas mencionadas
O estudo publicado na Revista Educação Pública mostra que o uso de livros paradidáticos torna a leitura em sala muito mais dinâmica, especialmente nos anos finais do ensino fundamental. Os estudantes tendem a se interessar mais quando percebem conexão entre teoria e vivências regionais.
Vantagens e desvantagens do paradidático regional
Desperta a curiosidade para costumes locais já presentes na vida dos alunos
Material estruturado, fácil de planejar e aplicar
Permite atividades interdisciplinares
Favorece o letramento e a interpretação de texto
Mas há quem sinta falta de um envolvimento mais prático ou ache que só a leitura pode não ser suficiente para estimular alunos que aprendem melhor fazendo e sentindo. Por outro lado, os paradidáticos são ótimos para introduzir a pesquisa, ampliar vocabulário e respeitar o ritmo individual de leitura, que nem sempre acontece nas dinâmicas em grupo dos kits culturais.
Qual escolher em cada situação?
Não há uma única resposta. Com o tempo, aprendi que o melhor recurso depende do perfil da turma, da faixa etária e do objetivo pedagógico. Vou compartilhar minhas impressões sobre onde cada solução brilha mais.
Para educação infantil e anos iniciais
Kits culturais são a escolha quase natural, pois promovem movimento, surpresa e sensorialidade.
São ótimos para acolher crianças pequenas, inclusive aquelas com dificuldades de comunicação.
Proporcionam vivências que reforçam o aprendizado lúdico, conforme discuto no artigo sobre importância da brincadeira para as crianças.
Para anos finais do fundamental e ensino médio
Livros paradidáticos regionais favorecem aprofundamento de conceitos, incentivo à leitura, pesquisa e reflexão.
Fazem sentido para projetos de história local, compreensão de contextos e desenvolvimento textual.
Cada faixa etária se encanta de um jeito.
E se misturar os dois?
Até hoje, algumas das experiências mais ricas que vivi em sala de aula aconteceram quando consegui reunir o melhor de cada recurso. Uma roda de leitura sobre o Bumba Meu Boi pode terminar em oficina de criação de máscaras ou música, misturando teoria e prática. Não há regra rígida, depende sempre do olhar sensível do educador e dos sonhos dos alunos.
Como alinhar kits e paradidáticos aos objetivos pedagógicos?
Os dois tipos de materiais podem andar juntos. O artigo publicado na Revista GeoSertões reforça que adaptar conteúdos regionais ao currículo escolar torna o aprendizado mais real, conectado e pertinente para crianças e adolescentes. Quando um kit cultural abre caminho para a vivência, um paradidático pode aprofundar o debate e sistematizar novos conhecimentos.
Na prática, recomendo usar kits em semanas temáticas, eventos culturais e projetos interdisciplinares, e os paradidáticos em sequências de leitura, pesquisa e trabalhos escritos. Quando possível, misture, crie, teste possibilidades. O fundamental é manter a paixão pela cultura viva, no professor e no estudante.
Para ideias sobre construção de brinquedos e experiências criativas, recomendo os textos sobre a importância de construir brinquedos e brincar como arte.
Conclusão: o melhor engajamento está na combinação
Se me pedissem para escolher só um, eu hesitaria. Kits culturais são pura vibração e imersão, enquanto os paradidáticos são paisagens para navegar a fundo nas tradições. O segredo, pelo que observei, está em combinar, e adaptar. O engajamento verdadeiro acontece quando tradição e ludicidade se encontram no olhar curioso dos alunos. E disso, nunca tive dúvida.
Perguntas frequentes
O que é um kit cultural?
Kit cultural é um conjunto de materiais lúdicos (jogos, músicas, brinquedos, histórias) voltados para vivências práticas da cultura popular. Geralmente, eles reúnem itens que estimulam o fazer, tocar, construir e brincar, adaptados a diferentes idades e contextos escolares.
Como escolher entre kit cultural e paradidático?
A escolha depende da faixa etária, dos objetivos da escola ou projeto e do perfil da turma. Para crianças menores, kits culturais são mais indicados por mobilizarem movimento e criatividade. Já para aprofundamento teórico e desenvolvimento da leitura, o paradidático costuma ser melhor. A mistura, muitas vezes, é a saída mais engajadora.
Livro paradidático engaja mais que kit cultural?
Nem sempre: kits engajam pelo corpo e pela experiência sensorial, enquanto paradidáticos podem engajar pela reflexão e apropriação do conteúdo. O maior engajamento acontece quando ambos se complementam, respeitando as fases e os interesses dos alunos.
Onde encontrar kits culturais para escolas?
Muitos kits culturais podem ser encontrados em iniciativas de arte-educação, organizações culturais, e projetos pedagógicos regionais. Alguns professores também montam seus próprios kits, aproveitando recursos da própria comunidade ou os conteúdos disponíveis on-line de domínio público.
Kit cultural vale a pena para estudantes?
Sim, vale muito para estudantes, pois amplia o contato com a cultura de forma viva, divertida e significativa. Além da aprendizagem cognitiva, os kits favorecem habilidades sociais, sensoriais e emocionais, preparando para a convivência e a valorização de nossas raízes culturais.








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