
Como aplicar cultura popular em turmas grandes sem complicação
- Flavio Aoun
- há 5 dias
- 6 min de leitura
Desde meus primeiros anos conduzindo oficinas, sempre ouvi que “turma grande é complicado demais”. Eu, sinceramente, entendo. Já me vi em frente a mais de trinta crianças cheias de energia, todas esperando algo divertido. Mas, ao longo do tempo, percebi que aplicar atividades culturais coletivas não precisa, de jeito nenhum, virar um caos. Na verdade, acredito que inserir a cultura popular em grupos grandes pode ser tão especial quanto em grupos pequenos, com algumas adaptações e um pouco de planejamento – e, modéstia à parte, isso está ao alcance de qualquer educador ou facilitador.
Por que a cultura popular faz tanta diferença?
Em minhas experiências, trazer elementos folclóricos ou manifestações da nossa cultura para dentro da sala ou para o pátio sempre produz um brilho imediato nos olhos das pessoas – de bebês até quem já passou dos sessenta. Acho incrível observar como eles se reconhecem nos ritmos, nas histórias e nas brincadeiras, formando uma identidade coletiva. É como se aquele batuque ou aquele conto fossem fios invisíveis ligando gerações. E é exatamente isso que a pesquisa do Seade SP Social confirma: o acesso e o conhecimento às artes e expressões culturais vêm crescendo, ainda que muitos não aproveitem tudo o que existe ao redor.
Métodos práticos: organização do espaço e do tempo
Isso pode parecer detalhe, mas quem já “perdeu o controle” numa turma cheia sabe: a disposição física do grupo muda tudo. Se eu sei que terei uma sala apertada ou um pátio grande demais, já penso antes onde todos devem ficar – se em círculo, em linhas, em pequenos blocos. Posicionar as pessoas de forma que todos se vejam já diminui metade dos problemas de dispersão.
Círculo completo: Para contação de história, roda de música ou conversa inicial.
Grupos paralelos: Em atividades de construção (como brinquedos recicláveis), distribuir mesas e materiais pelos cantos da sala é bonito de ver – e reduz tumulto.
Pátio espalhado ou simulação de palco: Para danças típicas, rodas de ciranda, cacuriá ou carimbó, delimitar espaço com fitas ou objetos simples ajuda muito.
Deixar tudo já organizado antes da chegada da turma faz toda diferença. E, se mudar algo no meio do caminho? Sem pânico. Adaptação é parte importante – e, sinceramente, às vezes os melhores resultados vêm dessas mudanças espontâneas.
Divisão em grupos: como garantir que todos participem
Costumo dividir as turmas grandes em pequenos grupos, variando o critério: às vezes misturo idades, às vezes junto por afinidade, outras por sorteio. Experimentei todos os jeitos. Notei que o principal é garantir que cada grupo tenha mesmo um papel, evitando que alguém fique só assistindo de longe.
Todo mundo merece protagonizar, nem que seja por alguns minutos.
Faço assim:
Revezamento na liderança: Cada rodada de brincadeira ou música tem outro grupo à frente.
Missões simultâneas: Um grupo cria instrumentos, outro ensaia músicas ou elabora cenários, e depois trocam.
Avaliação ou palpite entre grupos: Eles assistem ou ouvem o colega e sugerem mudanças divertidas ou criativas. Isso mantém a atenção de todos.
Já usei essa técnica de revezamento numa oficina de coco, com adolescentes. Fui surpreendido quando os grupos começaram a improvisar versos e desafiar os outros, tudo dentro do respeito e da brincadeira. Funcionou porque todos tinham a chance de liderar e observar – sem tempo para tédio.
Adaptações para manter o engajamento em número elevado
Aplicar cultura popular em grupos grandes, claro, exige uma dose de criatividade nas adaptações. Já me vi sem instrumentos para todos. O que fiz? Aproveitei recicláveis: tampinhas, latas, potes de plástico. Um desafio virou aprendizado coletivo.
Recursos simples funcionam: Panos viram adereços, folhas de caderno viram pandeiros. O improviso faz parte da cultura popular, não é verdade?
Tempo curto para cada dinâmina: Atividades longas perdem o grupo. Prefiro sequências rápidas: contação (5 minutos), música (5 minutos), troca de grupo (mais 5 minutos), e assim por diante.
Rotina visual: Um cartaz na lousa marcando o próximo passo, desenhado de forma lúdica, ajuda até quem tem mais dificuldade de atenção.
Variação de papéis: Quem liderou a dança, depois organiza a sala ou distribui materiais. Até montar o espaço vira parte da proposta pedagógica.
Essas ideias têm inspiração em diversas oficinas recreativas de cultura popular que já experimentei em escolas e eventos. Afinal, ajustar a proposta ao contexto específico da turma garante maior participação.
Dinâmicas de participação coletiva e ritmos ajustados
Já tentei acelerar e terminar rápido, e só ouvi reclamação: “Acabou já?”. Outras vezes, quis estender demais, e vi metade do grupo começar a se distrair. Aprendi que ajustar o ritmo faz toda diferença: se a turma está animada, acelero um pouco. Se percebo sinais de cansaço ou barulho exagerado, pauso, conto uma história curta, mudo a música. O dinamismo é tudo.
Exemplo prático? Em uma aula de capoeira com vinte crianças, dividi em dois grupos: metade jogava, metade batia palmas e coro. Depois troquei os papéis. O IBGE mostrou que quase metade dos municípios brasileiros têm grupos de capoeira, e na escola ela vira ferramenta que empodera e conecta os estudantes. Precisei ajustar o tempo de cada grupo, claro. E tive que lidar com um espaço bem apertado, mas funcionou porque todos estavam engajados – e ninguém ficou esperando parado por muito tempo.
Como evitar dispersão? Estratégias reais
A dispersão é um fantasma constante, principalmente em locais com pouca infraestrutura. O que aprendi, testando e errando, é que envolvimento só acontece quando cada pessoa sente que faz parte do todo. Algumas dicas que já testei várias vezes:
Dar pequenas funções: quem segura o pandeiro, quem marca o tempo, quem ajuda a arrumar o espaço.
Trabalhar em rodízio: a cada rodada, papéis mudam. Rotina é inimiga do engajamento.
Chamar os familiares, com base no que aprendi lendo sobre o Programa Educação e Família: quando pais e avós participam, vejo o interesse aumentar ainda mais.
Fazer uma pausa estratégica: às vezes é melhor parar e pedir um feedback do grupo, até informalmente, "O que vocês querem fazer agora?"
Minha inspiração veio não só dos livros e cursos, mas das rodas vividas de fato. E não só minhas: brincadeiras folclóricas provocam envolvimento mesmo nos mais tímidos – basta encontrar a dinâmica certa para aquele grupo e momento.
Limitações físicas e logísticas: o que fazer?
Muitas escolas não têm material, nem espaço amplo. Usei até salão de igreja e pequenos corredores para rodas de coco ou dramatizações. O Censo Escolar do Inep até aponta para a possibilidade de atividades externas, se estiverem ligadas ao planejamento pedagógico.
Sugiro algumas saídas que já usei:
Levar atividades para fora da sala – um pátio, uma quadra, ou até um jardim. Espaços diferentes renovam o interesse.
Pequenos instrumentos ou adereços portáteis (como fitas ou lenços) são leves, baratos e produzem efeito visual marcante.
Se falta material, incentive a turma a trazer itens de casa (com a família envolvida). O MEC recomenda turmas ajustadas ao espaço físico e contexto local; adaptar faz parte do processo.
Se precisar de ideias ainda mais específicas, o artigo “Por que é importante aprendermos sobre o nosso folclore?” traz exemplos claros e adaptáveis ao cotidiano escolar.
Encantamento coletivo: conclusões na prática
Acredito que, com carinho e criatividade, turmas numerosas podem se encantar juntas com o universo da cultura popular. A chave é se ajustar ao grupo, não esperar perfeição e, acima de tudo, aproveitar o processo coletivo. Gritos, risos e improvisos fazem parte do show.
O fortalecimento desse laço cultural não depende de recursos caros, mas de disposição e abertura. Sempre compartilho com colegas que “brincar é uma arte” e insistir nessa arte, mesmo nas condições mais desafiadoras, gera vínculos duradouros. Para quem quiser aprofundar, recomendo muito o artigo brincar é uma arte para inspirar esse olhar mais sensível sobre o cotidiano de qualquer sala de aula.
Perguntas frequentes
O que é cultura popular na educação?
Cultura popular na educação é a utilização de manifestações tradicionais, como danças, músicas, contos e brincadeiras, para enriquecer a aprendizagem e fortalecer a identidade dos alunos. São práticas que nascem do povo, transmitidas oralmente e adaptadas conforme o tempo e o lugar, tornando-se parte viva do currículo escolar.
Como aplicar cultura popular em turmas grandes?
Em turmas grandes, aplico dividindo em grupos, usando espaços alternativos, propondo rodízios de papéis e adaptando materiais para todos participarem. Ritmo rápido, tarefas objetivas e adaptação de recursos garantem envolvimento e evitam dispersão. As dinâmicas podem ser planejadas com base em ideias de brincadeiras colaborativas, por exemplo.
Quais são os benefícios da cultura popular?
A cultura popular promove pertencimento, valorização da diversidade, desenvolvimento da criatividade e construção coletiva do saber entre alunos de diferentes idades. Também fortalece vínculos familiares e escolares, além de estimular o respeito e a empatia.
É difícil usar cultura popular em sala?
Não considero difícil, mas exige preparação, disposição para adaptar propostas e abertura para ouvir o grupo. Com apoio de materiais simples e planejamento flexível, a aplicação se torna natural, mesmo em condições adversas. Cada turma apresenta seus desafios, mas as recompensas sempre aparecem no envolvimento e na alegria dos participantes.
Onde encontrar exemplos de atividades de cultura popular?
Busco inspiração em vivências pessoais, registros de manifestações folclóricas e em materiais compartilhados, como aqueles disponíveis em artigos sobre oficinas recreativas de cultura popular. Observar colegas em ação, assistir vídeos e participar de cursos também amplia o repertório.








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